Em uma propriedade rural em Brejetuba, na região serrana do Espírito Santo, um contraste salta aos olhos: lado a lado, duas lavouras de café arábica revelam realidades muito distintas. De um lado, plantas viçosas e uniformes, de verde intenso; do outro, cafeeiros secos, castigados pelo déficit hídrico. A diferença entre elas está na aplicação de uma tecnologia ainda pouco difundida na cultura do arábica no Estado — uma é irrigada, a outra, não.
A área é uma unidade demonstrativa do projeto Cafeicultura Sustentável, coordenado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Ela mostra, na prática, as vantagens da irrigação localizada em lavouras de café arábica. O objetivo é incentivar os produtores a adotarem sistemas eficientes de manejo da água, capazes de elevar a produtividade, garantir mais qualidade aos grãos e promover o uso racional dos recursos naturais.
Os primeiros resultados obtidos na unidade chamam atenção. Na safra passada, a área sem irrigação registrou produtividade média de 40 sacas por hectare, enquanto a área irrigada alcançou 78 sacas por hectare, praticamente o dobro.
Além do aumento na produção, os técnicos do Incaper observaram maior uniformidade da florada, melhor enchimento dos grãos e mais estabilidade produtiva, mesmo em períodos de estiagem. “A diferença é visível no campo e no resultado final da colheita”, ressalta o coordenador de cafeicultura do Incaper e do projeto Cafeicultura Sustentável, Fabiano Tristão.
Irrigação por gotejamento e fertirrigação
A tecnologia utilizada é a irrigação localizada por gotejamento, associada à fertirrigação, técnica que permite aplicar fertilizantes de forma precisa junto à água de irrigação, otimizando o uso de insumos e reduzindo perdas.
“É um sistema eficiente, que permite ao agricultor controlar com exatidão a quantidade de água e nutrientes que o cafeeiro recebe, favorecendo o desenvolvimento das plantas e a sustentabilidade da produção”, explica Tristão.
O projeto já conta com três unidades implantadas na região das Montanhas e outras três em fase de implantação na região do Caparaó, todas voltadas à cafeicultura de arábica. Nessas áreas, o Incaper realiza ações de extensão e capacitação, acompanhando o desempenho das lavouras e promovendo dias de campo e visitas técnicas para difundir os resultados entre os agricultores.
Resultados e experiência do produtor
O produtor Sérgio Alexandre Corrêa, dono da propriedade onde está instalada a unidade demonstrativa, na comunidade de São Jorge, conta que a diferença nas plantas foi perceptível logo nas primeiras semanas após o início da irrigação.
“Em cerca de 15 dias já dava pra ver a diferença no desenvolvimento das plantas. A parte irrigada ficou muito mais vigorosa, e na produção também foi notável. No primeiro ano, tive um pegamento de flor muito maior, o que resultou no dobro de sacas de café beneficiado por hectare, na comparação com o que colhi no sequeiro”, relata.
Segundo ele, a adaptação à nova rotina exigiu ajustes, mas o retorno compensou o esforço. “Não é fácil no começo, porque você muda sua rotina diária. O melhor horário pra irrigar é à noite. Mas é prazeroso ver o resultado. A irrigação é uma tecnologia que veio pra ficar. O investimento se paga logo na primeira colheita”, afirma.
Corrêa destaca ainda o papel fundamental do projeto na implantação do sistema. “A parceria com o Incaper ajudou demais. Fui acompanhado em todo o planejamento, tivemos apoio com a cessão de equipamentos, e isso fez muita diferença. Hoje posso dizer que estou muito satisfeito: a produção aumentou 100%. Quem tem água na propriedade e pode irrigar, deve investir. É um ótimo negócio”, pontua o cafeicultor.
Os equipamentos de irrigação utilizados na área foram cedidos em comodato pelo Incaper, permitindo a instalação da unidade demonstrativa em um hectare de lavoura. Em contrapartida, a propriedade abre as portas para atividades de difusão tecnológica, recebendo dias de campo, dias especiais, cursos e outras ações coletivas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater).
O desafio da irrigação no arábica capixaba
Embora o Espírito Santo seja o segundo maior produtor de café do país e líder nacional na produção de conilon, a irrigação ainda é pouco utilizada nas lavouras de arábica. O relevo acidentado, o custo inicial de implantação e a falta de informação técnica são alguns dos fatores que dificultam a adoção dessa tecnologia.
“Nosso papel é mostrar que a irrigação pode ser viável e transformadora, quando bem planejada e conduzida de forma sustentável”, frisa Fabiano Tristão. Para ele, a combinação de irrigação eficiente, novas cultivares de arábica recomendadas para o Estado pelo Incaper e boas práticas de manejo pode representar um salto significativo de produtividade e qualidade para o setor capixaba de arábica, que registrou uma produção de 4 milhões de sacas em 2024, a terceira maior do país.
Sustentabilidade e futuro
Mais do que aumentar a produção, o projeto Cafeicultura Sustentável busca garantir resiliência e autonomia ao agricultor, especialmente diante das mudanças climáticas e da irregularidade das chuvas. A adoção de tecnologias como a irrigação por gotejamento, aliada ao uso racional da água e ao monitoramento da umidade do solo, contribui para uma cafeicultura mais sustentável, eficiente e competitiva.
“O produtor que irriga consegue mitigar os efeitos das mudanças climáticas e melhorar a rentabilidade da propriedade. Isso é sustentabilidade econômica e social”, reforça o coordenador.
Projeto Cafeicultura Sustentável
O projeto Cafeicultura Sustentável integra o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, conduzido pela Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). A iniciativa é viabilizada no âmbito do Programa Inovagro, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
Com um investimento de R$ 4,9 milhões do Governo do Estado, o projeto abrange tanto as regiões produtoras de arábica — como Caparaó e Montanhas — quanto as regiões Norte, Central e Sul, produtoras de conilon. A meta é atender, até 2027, 8 mil propriedades rurais com planos de adequação aos parâmetros de sustentabilidade definidos para a cafeicultura capixaba.
Entre as ações de difusão tecnológica, estão as unidades demonstrativas de irrigação, terraceamento, secagem e pós-colheita, além de unidades de referência em sustentabilidade, Dias de Campo, cursos e excursões técnicas — atividades que aproximam ciência e prática, levando inovação ao campo.
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