23/09/2019 12h26

Assentamento Sezínio: exemplo de luta, amor à terra, diversificação e sustentabilidade

O Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus foi criado pelo Governo Federal em 2008. Ocupa uma área de mais de dois mil hectares no município de Linhares, onde vivem cerca de 100 famílias.

O lote 19 é o sustento do agricultor Anderson Agostini, que mora no Assentamento Sezínio em Linhares. “Na minha vida, esse lote representa tudo. É meu ganha pão de todo dia. Quase 100% do meu alimento é natural e vem daqui. Se alguém chegar e oferecer alguma coisa em troca, uma venda, eu não negocio jamais”, disse.

Toda esta devoção à propriedade tem uma história de luta. Depois de 6 anos debaixo da lona, integrando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a família conquistou o quinhão de 7 hectares para cultivo. E desde então, passou a receber orientações do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

“O Incaper sempre foi meu companheiro, meu parceiro, que me ajuda desde o início. Sem ele, eu não teria chegado onde cheguei. O Incaper é um órgão que todas as pessoas tinham que se espelhar nele”, afirmou o agricultor.

A diversificação é a marca do lote 19. “Nós começamos com café. Na época, ninguém produzia pimenta-do-reino, e eu trouxe 120 mudas. Além disso, tem cacau, goiaba, coco, banana... o cajá-mirim. Eu fiz todas as mudas através de um pé que eu ganhei. Temos ainda a criação de galinha, porco... tudo com mão de obra nossa. Quando a gente chegou, não existia energia. A propriedade fica longe da lagoa, e eu furei um poço artesiano. É dali que sai a água que bebo, que irrigo...”

A agroecologia é a opção de cultivo escolhida não apenas pela família Agostini, mas por todas as 100 famílias que vivem no Assentamento Sezínio. Não foi à toa que a experiência dos assentados recebeu a visita da comitiva do projeto HorizontES em Extensão. Capitaneado pelo Incaper, o projeto levou representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) e da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes) para conhecerem o Assentamento. Representantes da Prefeitura de Linhares também estavam presentes.

Durante a visita, outros agricultores que recepcionaram a comitiva defenderam a missão do Incaper de promover soluções tecnológicas e sociais por meio de ações integradas de pesquisa, assistência técnica e extensão rural, visando ao desenvolvimento do Espírito Santo. “O Incaper tem sido parceiro não só nesses 12 anos de Assentamento, mas desde que era Emater. A gente ressalta essa importância, e ressalta a importância do trabalho de pesquisa e extensão. A pesquisa do milho foi fantástica, a produção da variedade crioula de milho. Nós temos que defender o Incaper”, lembrou Edmar dos Santos Amelio, agricultor assentado, referindo-se ao Milho Imperador, a primeira variedade para produção orgânica no Espírito Santo, lançado pelo Incaper em dezembro de 2018.

Banana da terra, feijão, cacau e coco também são fontes de renda no Assentamento Sezínio. A produção alimenta as famílias que vivem na comunidade e também é comercializada via Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e Compra direta da Agricultura (CDA).

“Só desisti de fazer a venda na feira do bairro Três Barras porque não dava para competir com um caminhão que vinha de fora. Mas a gente tem de tudo aqui, e tudo saudável. Couve, tomate, abóbora... toda a alimentação da minha família vem da propriedade. Temos araruta para fazer polvilho... a produção é boa, graças ao apoio do Incaper. Até as galinhas caipiras que a gente tem, para ovos e carne de frango, o Incaper ajudou no melhoramento genético das galinhas”, acrescentou Anderson Agostini.

A noiva do agricultor, Sandra Francisco, também cultiva na propriedade. Montou um pequeno orquidário, e cuida com zelo e carinho de orquídeas e suculentas. A floricultura ainda é um lazer, que enche de cores e perfumes a lida das famílias assentadas. Mas Sandra já recebe incentivo e apoio do Incaper para comercializar as flores e, desta forma, ornamentar a vida de muitas outras famílias.

A visita ao Assentamento Sezínio

Ao chegar ao Assentamento Sezínio, a comitiva do HorizontES em Extensão foi recepcionada por um grupo de agricultores assentados, além de outras instituições. Os anfitriões prepararam uma bela recepção na Escola Estadual Paulo Damião Tristão Purinha, erguida pela própria comunidade. “Queríamos um nome que tivesse a ver com a nossa realidade, o nome de um lutador. Paulo Damião Tristão Purinha foi tombado (morto) na luta por justiça. Vamos relembrar para sempre a história dele”, explicou a assentada Geísa Carvalho Gomes Giuberti.

Durante a recepção, foi servido um café da manhã com produtos cultivados no Assentamento e preparados ali mesmo na cantina da escola. A reunião foi repleta de informação e cultura. Maria Joselma Pereira, do Assentamento Vale da Esperança, em santa Teresa, recitou em forma de poema a letra da música Caminhos Alternativos, de Zé Pinto: “Amar a terra, e nela plantar semente, a gente cultiva ela, e ela cultiva a gente. A gente cultiva ela, e ela cultiva a gente”.

Em meio a sessões animadas com música, os participantes da comitiva apresentaram-se e fizeram suas contribuições. “Cada tijolo, cada areia movida aqui, cada estrada construída, é fruto de esforço e luta do agricultor. Aqui era só capim e pasto, que empregava apenas de 15 a 20 pessoas. Hoje são 100 legalmente assentados. Não há um técnico do Incaper que nunca esteve aqui no Assentamento.  Os resultados conquistados aqui são frutos do trabalho de muita gente. Estamos aqui desde 2008, quando eles ainda estavam em barracas de lona”, pontuou o extensionista do Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR) do Incaper de Linhares, Daniel do Nascimento Duarte.

O extensionista apontou algumas das muitas ações promovidas pelo Incaper e parceiros no Assentamento: “Vários cursos foram realizados nas áreas de produção agrícola em café, cacau, sistemas agroflorestais, galinha caipira... Teve curso de vaqueiro, do Cores da Terra, derivados do leite, aroeira, boas práticas, homeopatia, palestras sobre PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae)... teve também intercâmbio aos municípios de Iconha, Santa Maria de Jetibá, Nova Venécia e São Mateus, aqui no Espírito Santo; Ilhéus, na Bahia; e Espera Feliz, em Minas Gerais. O foco era conhecer experiências de produção orgânica, agroindústria e comercialização que pudessem ser multiplicadas na comunidade”.

Na ocasião, o gerente de Agricultura Familiar da Seag, Andreliano Maretto, deu uma boa notícia relacionada ao Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf). “Estamos lançando o terceiro edital do Funsaf, com foco nas mulheres, e os recursos podem chegar a 8 milhões de reais. Além de anunciar isso para vocês, quero parabenizar o Assentamento que foi contemplado no último edital”, ressaltou.

“O Assentamento Sezínio é mais um caso de sucesso dessa agricultura tão pujante que temos no Espírito Santo. A Aderes tem programas de capacitação e empreendedorismo para tornar o agricultor um empreendedor”, destacou Rodrigo Bolelli, representante da Aderes, mencionando o Agrolegal, plano voltado para o desenvolvimento rural por meio de agroindústrias.

“Viemos até aqui para mostrar o quanto a Ceasa pode ser útil na comercialização, orientando quanto à rastreabilidade, que é uma exigência nacional. Além disso, coordenamos o Núcleo de Atendimento ao contribuinte (NAC), e podemos contribuir com preciosas informações sobre a nota fiscal do produtor”, declarou Marcos Magalhães, representante da Ceasa.

Diversas ações desenvolvidas no Assentamento foram possíveis graças ao apoio do poder público. “Estamos desenvolvendo um programa de água e solo, com a construção de caixas secas, que deve chegar em breve ao Assentamento. O edital do programa de fruticultura está aberto, o município está pleiteando mudas, e a cultura escolhida pelo Sezínio foi a goiaba”, informou Yago Bitti de Melo, chefe de Agricultura e Aquicultura da Secretaria de Agricultura, Aquicultura, Pecuária e Abastecimento de Linhares.

“O trabalho que os assentados desenvolvem está sendo exemplo para todo o Espírito Santo. Esses resultados são protagonizados por vocês. O Incaper e todas as instituições aqui presentes são parceiros, e têm a honra de fazer parte desta história”, acrescentou Jaqueline Sanz, coordenadora do projeto HorizontES em Extensão e Gerente de Assistência Técnica e Extensão Rural (Gater) do Incaper.

Sobre o Assentamento Sezínio

O Assentamento Sezínio Fernandes de Jesus foi criado pelo Governo Federal em 2008. Ocupa uma área de mais de dois mil hectares no município de Linhares, onde vivem cerca de 100 famílias.

Todo o trabalho desenvolvido pelos assentados busca autonomia e identidade. “Queremos o endereço do Assentamento Sezínio. Quando me perguntam onde eu moro, tenho que dizer que é no Humaitá”, argumentou Adriana da Silva Celestrini, conhecida como “Lemoa” entre os vizinhos do Assentamento.

O Incaper esteve presente no Assentamento desde a sua origem. Um dos frutos da ação do Instituto é a existência de duas associações na comunidade: a Associação dos Pequenos Agricultores do Assentamento Sezínio Fernandes De Jesus (Apas) e a Associação Jequitibá.

Graças ao trabalho dos agricultores e ao apoio do Incaper e de outros parceiros que o Assentamento Sezínio é hoje, exemplo para o Espírito Santo. Existem diversas experiências na localidade que são fruto das ações integradas de pesquisa, assistência técnica e extensão rural do Instituto. “O uso de cobertura morta nas lavouras, tutores vivos em pimenta do reino, campos de ensaio de milho, comercialização via Pnae, via Compra Direta da Agricultura (CDA), entre outras”, listou o extensionista do Incaper Daniel do Nascimento Duarte.

Sobre o HorizontES em Extensão

A visita ao Assentamento Sezínio, em Linhares, foi uma iniciativa do projeto HorizontES em Extensão, que pretende mostrar 11 experiências de relevância para o desenvolvimento rural capixaba. 

A experiência foi escolhida pelo Centro Regional de Desenvolvimento Rural (CRDR) Rio Doce, que coordena 6 ELDR do Incaper. “Nosso trabalho é atuar como facilitadores, para que o agricultor receba todas as informações de que necessita para obter bons resultados, disse Wataanderson Rocha, coordenador do CRDR Rio Doce.

Segundo Jaqueline Sanz, “a proposta do HorizontES em Extensão é justamente dar visibilidade às ações que tenham relevância para o desenvolvimento rural capixaba. O trabalho é protagonizado pelos agricultores, mas tem o trabalho de todos os servidores do Incaper”.

Para Nilson Araujo Barbosa, diretor-técnico do Incaper, “cada experiência oferece uma oportunidade de ver a extensão rural de maneira qualitativa. O projeto HorizontES em Extensão está integrando várias instituições dentro de um contexto maior: beneficiar a sociedade capixaba como um todo. Quando você abre os horizontes, abre as porteiras e expande seu olhar”.

O projeto HorizontES em Extensão foi viabilizado com recursos oriundos de um convênio estabelecido entre o Incaper e o Ministério da Agricultura, Pecuária de Abastecimento (Mapa). A parceria prevê, entre outras metas, a realização de ações no Programa de Aperfeiçoamento em Práticas e Projetos de Desenvolvimento Rural dos Agentes do Incaper.

 

Texto: Juliana Esteves

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