Desde o ano passado, o Espírito Santo conta oficialmente com a Rede Capixaba de Sistemas Agroflorestais (SAF), fruto de uma parceria entre o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais (SAF) da região Sudeste. O objetivo é fomentar a atividade no Espírito Santo, por meio da troca de experiências de pesquisas e manejos em SAFs, desenvolvida no Estado, e do acompanhamento econômico-financeiro dos resultados.
O SAF é uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas ou manejadas em consorciação com culturas agrícolas ou forrageiras. Em outras palavras, é um sistema em que o produtor planta e cultiva árvores e culturas agrícolas em uma mesma área, garantindo a melhora de aspectos ambientais, além da produção de alimentos e diversos produtos madeireiros e não madeireiros.
Além de pesquisadores, extensionistas do Incaper e membros da Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais, o SAF, cuja coordenadora na região Sudeste é a extensionista aposentada do Incaper Maria da Penha Padovan, também participam da rede técnicos do Instituto Peroá, Cedagro, da Suzano S.A, da Vale do Rio Doce, de Projetos e Programas, do Programa Reflorestar, da Secretaria da Agricultura, Aquicultura, Abastecimento e Pesca (Seag), além do Programa Arboretum, de entidades de classes, como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), a Sociedade Espírito-santense de Engenheiros Agrônomos (SEEA) e o Conselho Regional de Biologia (CRBio).
Além disso, participaram da rede técnicos das prefeituras de Aracruz, Rio Novo do Sul, Venda Nova do Imigrante, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá, São Mateus, Santa Teresa, Atílio Vivácqua; consultores e representantes da organização não governamental (ONG) WWF Brasil, entidades internacionais do Projeto Alimentos sem fronteiras, instituições financeiras, gestores de unidades de conservação, movimentos da sociedade civil, tais como o Plantio Brasil e a Rede de sementes, além de agricultores familiares, comunidades quilombolas e indígenas.
A organizadora da Rede Capixaba de Sistemas Agroflorestais (SAF) e coordenadora de Recursos Naturais do Incaper, a pesquisadora Fabiana Ruas, ressaltou que a ideia de formar a rede se deu a partir do I Encontro Capixaba Sobre Sistemas Agroflorestais, realizado em 2022, no município de Aracruz, com a participação de 169 pessoas, incluindo 15 municípios do Estado e representantes de outros três estados brasileiros.
Segundo a pesquisadora Fabiana Ruas, durante três dias de evento no Centro de Turismo Social e Lazer, no Sesc de Praia Formosa, foi alcançado o objetivo proposto de promover, debate e criar um fórum de inovação tecnológica, atualização e intercâmbio técnico-científico que integra os agentes da cadeia produtiva dos Sistemas Agroflorestais no Estado do Espirito Santo. Na oportunidade, um dos encaminhamentos tirados do evento destacou a necessidade de unir todos os envolvidos e criar a rede.
“Ao longo desse tempo, produtores rurais têm apresentado as suas experiências em SAF e o grupo têm buscado, de forma sistematizada, compreender onde estão as propriedades que trabalham dessa forma, os principais produtos gerados, os principais apoiadores públicos ou privados que prestam assistência técnica às comunidades, os gargalos da atividade e as perspectivas sob o olhar de quem trabalha com os sistemas agroflorestais. Para isso, fizemos um diagnóstico participativo, no formato on-line, para que todos os integrantes fossem contemplados”, explicou Fabiana Ruas.
Os resultados foram apresentados durante o II Encontro Capixaba de Sistemas Agroflorestais, realizado este ano, no município de Alegre, que trouxe ao Espírito Santo mais de 300 pessoas, em momentos de intercâmbio de conhecimento e experiências em SAF.
Fabiana Ruas aproveitou para lembrar que, durante dois dias, antes dos dois encontros capixabas de sistemas agroflorestais, houve a abertura com os Cursos de Culinária da Floresta, realizados em comunidades dos municípios que sediaram os eventos. Essas atividades foram ministradas pela engenheira de alimentos do Serviço de Aprendizagem Rural (Senar), Maria Zanúncio. Durante as programações, os produtores e produtoras envolvidos apresentaram os produtos das receitas desenvolvidas e preparadas no curso, com ingredientes advindos de SAF daquelas comunidades.
Durante o primeiro e o segundo Encontro Capixaba Sobre Sistemas Agroflorestais, realizados em Aracruz e em Alegre, as famílias produtoras também puderam comercializar os produtos. Entre os mais explorados e aproveitados das agroflorestas do Espírito Santo, além do café, estiveram pupunha, açaí, os frutos da palmeira juçara, o mangará da banana, conhecido como “umbigo” ou “coração” da fruta, além da jaca, pimenta-rosa (frutos da árvore ou aroeira), bem como plantas de ciclo mais curtos, que vão desde hortaliças até os tubérculos, como a mandioca e a batata-doce.
“Além disso, a Rede Capixaba de SAF tem trabalhado fortemente para que os produtores rurais levem os seus produtos para as feiras, com o objetivo de aumentar suas rendas familiares, contribuírem com o ganho da escala de sistemas sustentáveis de produção, com valorização e agregação de valor, e, quem sabe, pensar em certificação dos produtos da agrofloresta”, disse Fabiana Ruas.
Perspectivas da Rede Capixaba de Sistemas Agroflorestais (SAF)
Um dos objetivos da Rede Capixaba de Sistemas Agroflorestais é explorar as diversidades do Espírito Santo, a fim de conhecer as cadeias produtivas, as características de clima, dificuldades e potencialidades de cada região.
“Foram realizados os encontros capixabas em Aracruz, município que tem uma realidade de solo, topografia mais plana e está no nível do mar, e, em um segundo momento, em Alegre, justamente para conhecermos experiências de uma outra realidade, com solos e clima diferentes e topografia mais acidentada típica de região serrana”, salientou Fabiana Ruas.
Ela acrescentou que, desde que a Rede Capixaba de Sistemas Agroflorestais tomou forma, também já tem acontecido, entre os produtores, a troca de sementes e mudas, permitindo que eles ganhem mais força como uma rede de comercialização. “A meta é que a ação continue e que novos produtores sejam envolvidos e busquem os encontros como uma oportunidade de engajamento e interação”, frisou a pesquisadora.
Nesse cenário, o Arboretum, programa interinstitucional proposto pelo Serviço Florestal Brasileiro, apoiado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do município de Teixeira de Freitas (BA), em parceria com o Incaper, já viabilizou a entrega de mudas nativas do programa para produtores que compõem a rede.
Entre os planos da Rede, estão realizar os encontros bianuais e itinerantes; articula visitas às áreas já implantadas; dar continuidade ao levantamento e cadastros de SAF do Estado; apoiar grupos de trabalho para a discussão de políticas públicas de incentivos aos SAF, incluindo programas, projetos, beneficiamento e processamento de produtos; fomentar SAF com a implantação do Programa de Recuperação ambiental (PRA); e fomentar a participação de pessoas de outros estados, com o objetivo de aumentar o intercâmbio de conhecimentos entre os envolvidos.
Também já estão sendo organizadas pequenas lives (gravações on-line) no canal do Incaper no YouTube, envolvendo a participação de produtores e técnicos, que vão apresentar as experiências de SAF em diferentes regiões.
Texto: Tatiana Toniato Caus
Informações à Imprensa:
Assessoria de Comunicação do Incaper
Tatiana Caus / Daniel Borges / Felipe Ribeiro
(27) 3636-9865 / (27) 98833-4116 / (27) 98849-6999
tatiana.souza@incaper.es.gov.br / daniel.borges@incaper.es.gov.br / felipe.costa@incaper.es.gov.br