21/06/2017 11h29 - Atualizado em 21/06/2017 11h23

Café sombreado: consórcio de café com cajá gera renda e conforto térmico para o agricultor e para a lavoura em Boa Esperança

O agricultor Doriédson Thomazini apostou no consórcio de café com cajá.

Plantios de árvores e espécies frutíferas em meio às lavouras de café têm proporcionado boas experiências de diversificação produtiva e geração de renda para agricultores capixabas. No município de Boa Esperança, o produtor Doriédson Thomazini consorcia café conilon com cajá e demonstra como os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) podem proporcionar ganhos produtivos e ambientais.

“A minha experiência de consórcio de café com cajá começou há cinco anos. Eu queria ter outra fonte de renda e tive a ideia de colocar o cajá no meio do café para otimizar a área, já que minha propriedade é pequena. Além disso, eu contava com a facilidade de ter uma fábrica de polpa de frutas no município, para onde poderia vender meu produto”, contou o agricultor.

Segundo ele, o café estava sofrendo muito devido às altas temperaturas e o sombreamento parcial foi uma opção encontrada para amenizar o impacto do sol nas lavouras. “Tenho percebido que nas lavouras a pleno sol o café está mais queimado, mais ‘chocho’, e onde está sombreado com cajá, o café possui mais qualidade, as plantas estão mais verdes e preservadas”, relatou Doriédson, que também cultiva pimenta-do-reino.

A escolha do cajá para realizar o consórcio com o café não foi ao acaso. “O café é uma cultura tropical que necessita de luz e o cajá casa bem com essa planta. No período de inverno, quando há menor incidência de luz solar, as folhas do cajazeiro caem, permitindo a passagem da luz para o café. A partir de outubro, quando começa a esquentar, as folhas do cajá rebrotam e produz a sombra necessária no café até o mês de fevereiro”, explicou Doriédson, que possui quatro hectares de café consorciados com cajá.

Vantagens do consórcio do café com cajá

O agricultor tem observado que o consórcio de café com cajá não tem influenciado negativamente na produção do café. “Em relação à manutenção dos números da produção, não temos ainda dados estatísticos comprovados, mas a lavoura está bonita e a produção se mantendo. Observamos essas vantagens iniciais e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) está fazendo um trabalho de pesquisa para analisar cientificamente a interferência do café no cajá e vice-versa”, disse o produtor.

Segundo Doriédson, o manejo do café continua o mesmo. “Teve redução da capina por causa do sombreado parcial e, consequentemente, menos despesa com esse serviço. As folhas do cajazeiro também contribuem para a adubação da lavoura”, explicou.

O cajá foi colocado no espaçamento de 15 metros entre linhas e 7,5 entre plantas. Sua copa foi cortada de modo que haja um bom espaço entre o teto da lavoura do café e a copa do cajazeiro. A produção de cajá foi em torno de 2.700 kg nessa área e a renda anual de R$ 3 mil com a venda do fruto.

Pesquisa do Incaper avalia Sistemas Agroflorestais no Norte do Estado

Para avaliar o consórcio de árvores e frutíferas com café conilon no Norte do Estado, o pesquisador Eduardo Sales tem feito pesquisas sobre Sistemas Agroflorestais com Cafezais no Espírito Santo e a propriedade do agricultor Doriédson Thomazini é um dos locais pesquisados. “O trabalho com sistemas agroflorestais com café leva muitos anos para ter resultado. Por isso, a propriedade do Doriédson foi um achado. Ele implantou sistema de café com cajá mesmo com algumas incertezas. Foi realizado um dia de campo em sua propriedade e propusemos acompanhá-la”, falou Eduardo.

Este ano, será realizado pelo Incaper, pela quarta vez, o acompanhamento da colheita de café na propriedade de Thomazini. “Com esses resultados, queremos passar aos agricultores que o sistema agroflorestal pode ser desenvolvido a fim de que se tenham sistemas mais harmônicos com a natureza, além de gerar outra fonte de renda para o agricultor”, falou Eduardo.

De acordo com o pesquisador, os resultados preliminares de pesquisa têm demonstrado que existe competição entre as espécies nos sistemas agroflorestais com o cafeeiro, mas ela é compensada pelos ganhos econômicos e ambientais. “Quando qualquer espécie é plantada com o café, há uma pequena diminuição da produção, mas, por outro lado, existem outros ganhos, seja com a renda de frutos ou com o material que é podado e vira matéria orgânica para reciclar nutrientes, imitando a floresta”, disse o pesquisador.

Outra vantagem destacada pelo pesquisador é o conforto térmico advindo dos Sistemas Agroflorestais. “O agricultor ter a possibilidade de trabalhar na sombra é um outro sistema de produção que, em termos de conforto térmico para a planta e para o agricultor, é muito mais favorável”, explicou.

Eduardo Sales destacou que, historicamente, o café foi implantado com a derrubada e queima da mata, os sistemas agroflorestais podem mudar essa realidade. “A cafeicultura que foi uma das responsáveis por destruir a Mata Atlântica pode agora recuperá-la a partir de sistemas mais harmônicos tanto para o meio ambiente quanto para o agricultor”, abordou o pesquisador.

O Incaper tem buscado técnicas e espécies mais compatíveis com cafeeiro que tragam fonte de renda e/ou serviços ambientais que compensem ao agricultor trabalhar dessa forma. “Na pesquisa, trabalhamos com o com cedro australiano, a teca e o jequitibá. Dessas três espécies, o cedro australiano foi o que competiu mais, a teca medianamente e o jequitibá, árvore símbolo do Espírito Santo, para nossa satisfação, competiu menos com o conilon”, falou Eduardo.

Saiba mais sobre esse assunto no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xmZa-v24Jqc

 

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