10/09/2019 16h47

Hora do Recreio: agricultoras de Alfredo Chaves dão aula de empreendedorismo feminino

Foto: Incaper
As mulheres da Hora do Recreio: agroindústria foi visitada pela comitiva do Projeto HorizontES em Extensão.

A agroindústria Hora do Recreio, em Alfredo Chaves, começou graças à iniciativa das mulheres. Elas já produziam pães, bolos e biscoitos para suas famílias e resolveram tirar a produção de dentro de casa e transformá-la em negócio lucrativo. “Trouxemos as colheres, panelas e batedeiras de casa para começar. Mas todas somos agricultoras antes de sermos biscoiteiras”, orgulha-se Maria Margaret Pessin, carinhosamente chamada de professora pelas colegas. “As forminhas de brevidade tinham formatos diferentes e não saía uma brevidade igual à outra”, acrescenta a coordenadora do grupo, Cecília Tomazini Bergami, a Cila.

As mulheres do Recreio são acompanhadas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) desde o princípio. A experiência recebeu a visita de uma comitiva da agricultura capixaba, por meio do projeto HorizontES em Extensão. Capitaneado pelo Incaper, o projeto levou representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) e da Agência de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas e do Empreendedorismo (Aderes) para conhecerem a Hora do Recreio.

Atualmente, seis mulheres trabalham na agroindústria e produzem biscoitos variados, como de polvilho, amido de milho, casadinho, de nata e fubá com coco, entre outros. Parte dos ingredientes como coco, limão, leite e maracujá são adquiridos nas propriedades do entorno.

“Nosso principal diferencial é que nossos biscoitos são assados no fogão a lenha. Mas o fato de ser um empreendimento tocado por mulheres e o fato de buscarmos matéria prima nas propriedades da região também atrai a atenção das pessoas. Antes a gente pedia doação de leite aos vizinhos. Hoje já conseguimos pagar”, comemorou a professora Margaret.

A produção da Hora do Recreio chega a 1.200 quilos por mês e é comercializada em supermercados e padarias de Alfredo Chaves, Iconha, Vargem Alta, Rio Novo do Sul e Vitória. O grupo também fornece produtos para a alimentação escolar por meio das políticas públicas de comercialização, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Ter acesso ao mercado foi mais um desafio superado com a ajuda do Incaper. “A gente vendia na feira e sobrava. Para não perder, tínhamos que vender pela metade do preço. Vimos que isso não era viável, tínhamos que trabalhar mais para abrir outros mercados. O Incaper foi fundamental para que a gente atendesse às exigências de comercialização: padronizamos rótulos e abrimos novos pontos de venda”, lembrou Cila.

O Incaper também contribuiu na logística para aquisição de matéria prima e comercialização. “A gente pegava os carros dos nossos maridos para buscar trigo e fazer biscoito. O Incaper nos conseguiu um carro para fazer as entregas, mas ele sofreu com a enchente. Agora conquistamos um carro com baú”, comemorou Margaret. Maria Niuce Sartori, carinhosamente chamada de Nêga pelas colegas, é a responsável pelas vendas.

Como tudo começou

Com a experiência e a simplicidade de quem testemunhou parte da história, dona Nair Tavares Bertoldi conta como se desenvolveu a comunidade rural do Recreio, em Alfredo Chaves. “O lugar se chamava Rio Claro, porque o rio que passava aqui era bem clarinho. Mas os italianos não conseguiam falar essas palavras, e eles falavam de um jeito que parecia Recreio. Aí ficou Recreio o nome da comunidade”, disse a agricultora.

Ela ainda carrega na fala resquícios bem evidentes do sotaque dos antepassados e resgata passagens importantes para o desenvolvimento rural da comunidade, mencionando inclusive os primórdios do Incaper e citando nominalmente alguns servidores.

 “Construíram a primeira igreja, que era tapada de ‘taubinha’. A pessoa que seria padre é que ensinava as pessoas a ler e escrever. Aí sentiram falta de uma escola, e construíram no pátio da igreja, também tapada de ‘taubinha’. Foram buscar a professora, mas ninguém falava português, só italiano. A professora teve que aprender para depois ensinar. Aí em 1960 fizeram a igreja tapada de telha e depois a nova escola tapada de telha. Em 1970, o Incaper era Acares e Emater e fez um trabalho com os jovens daqui do Recreio. Curso de costura para as mulheres e informação sobre a roça para os homens. Era a Ana Mariana, o Valdecir Bertoldi e o Reginaldo Conde”, lembrou dona Nair.

O nome Hora do Recreio, em homenagem à comunidade, ficou bastante sugestivo, já que o grupo começou os trabalhos ocupando justamente o espaço físico da antiga escola. “A gente estava pensando que nome daríamos ao grupo. Aí a Ana Carolina, que é filha da nossa colega Lucínia Partelli, deu essa sugestão e a gente gostou”, disse Margarete Curitiba Sartori, integrante do grupo de mulheres da Hora do Recreio.

Recontar a própria história emociona a coordenadora das mulheres do Recreio. “Eu sou a coordenadora do grupo desde 2005. A lição que todas nós tiramos é que o trabalho em conjunto traz crescimento e envolvimento de toda comunidade. Para nós, é uma alegria receber bem e oferecer o que nós temos que melhor, que são os nossos produtos”, contou orgulhosa Cila.

O projeto HorizontES em Extensão

A agroindústria Hora do Recreio é um dos vários exemplos da atuação do Incaper. O Escritório Local de Desenvolvimento Rural (ELDR) do Instituto em Alfredo Chaves desenvolve 26 operações diariamente junto à agricultura familiar do município.

“Aqui em Alfredo Chaves, 63% da economia vem do meio rural. A diversificação é forte no município: temos inhame, olerícolas, café, banana, pecuária de leite e de corte, fruticultura... e mais de 30 agroindústrias que a gente conhece, fora as que a gente ainda não viu. No caso da Hora do Recreio, o trabalho começou lá atrás, com a nossa colega Ana Penteado, que deu grande suporte às mulheres do Recreio”, disse João Medeiros, extensionista do Incaper de Alfredo Chaves.

Esta contextualização foi apresentada pelo extensionista durante a visita da comitiva do projeto HorizontES em Extensão à agroindústria Hora do Recreio. O projeto pretende mostrar 11 experiências de relevância para o desenvolvimento rural capixaba.

Para Jaqueline Ssanz, coordenadora do HorizontES em Extensão e Gerente de Assistência Técnica e Extensão Rural (Gater) do Incaper, a proposta é dar visibilidade às ações que tenham relevância para o desenvolvimento rural capixaba. “Todos os dias o Incaper constrói lindas ações junto à agricultura familiar do Espírito Santo. Neste momento, em outros municípios, estão existem várias outras experiências. A ideia do HorizontES é que estas experiências sejam conhecidas pelo maior número de pessoas, que sirvam de bons exemplos”, disse.

A experiência da Hora do Recreio foi indicada pelo Centro Regional de Desenvolvimento Rural (CRDR) Litoral Sul, que coordena oito Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural (ELDR) do Incaper.

“Nos reunimos com todos os coordenadores dos ELDRs que compõem o nosso Regional e, entre os temas, estava esta agroindústria. Todos apresentaram experiências muito bacanas, e escolhemos visitar essa experiência em Alfredo Chaves”, disse Alciro Lamão Lazzarini, coordenador do CRDR Litoral Sul.

Além dos representantes das instituições que integram o projeto HorizontES em Extensão, também participaram vereadores; vice-prefeito de Alfredo Chaves, Laerte José Volponi, representantes da Secretaria Municipal de Agricultura, do Bando do Brasil e Walder José Marianno e Patrícia Barreto de Oliveira, acadêmicos do curso Master Social Administration - Gestão do Desenvolvimento Territorial da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Durante a visita, os integrantes da comitiva e convidados apresentaram suas ações. “A Aderes tem o Projeto D’Elas para capacitar, motivar e empoderar as mulheres a voltarem para o mercado de trabalho. Estamos justamente buscando experiências de sucesso para levar a outras mulheres”, disse a representante da Aderes, Renata Belmiro Nascimento.

O coordenador da Comissão de Rastreabilidade da Ceasa, Marcos Magalhães, colocou-se à disposição. “A rastreabilidade é uma exigência nacional. Nós da Ceasa podemos orientar e explicar tudo sobre o assunto. Vamos trazer o que for possível no que se refere à rastreabilidade”, pontuou.

“Eu gostaria de parabenizar o Incaper pela iniciativa. Trazer parceiros mostra o quão importante, o quão frutífero é trabalharmos juntos. Trabalhar em conjunto é bom para todos atingirem os objetivos mais facilmente. Estou surpreso e muito feliz com a estrutura, a receptividade e o carinho das mulheres da Hora do Recreio”, disse o representante da Seag, Luciano Fazolo.

Para Nilson Araujo Barbosa, diretor-técnico do Incaper, a integração das diversas instituições é o segredo do sucesso. “Ninguém faz nada sozinho. Todos temos desafios, orçamentários inclusive, e as parcerias são fundamentais para todos os envolvidos. O Incaper tem uma rede de parceiros e profissionais que garante excelência aos trabalhos realizados. A atuação do Incaper está além da integração entre pesquisa, assistência técnica e extensão rural, e o HorizontES em Extensão traz todo esse arcabouço dentro de um contexto maior: beneficiar a sociedade capixaba como um todo”, pontuou.

O projeto HorizontES em Extensão foi viabilizado com recursos oriundos de um convênio estabelecido entre o Incaper e o Ministério da Agricultura, Pecuária de Abastecimento (Mapa). A parceria prevê, entre outras metas, a realização de ações no Programa de Aperfeiçoamento em Práticas e Projetos de Desenvolvimento Rural dos Agentes do Incaper.

Texto: Juliana Esteves

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