30/08/2024 13h19 - Atualizado em 09/09/2024 08h31

Estudo do Incaper indica potencial de cultivo de ostra nativa em Aracruz

Cultivo experimenal foi realizado no estuário do Rio Piraquê-Mirim

Um experimento com cultivo de ostras no estuário do Rio Piraquê-Mirim, no município de Aracruz, apresentou resultados promissores com a espécie nativa Cassostrea brasiliana, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento sustentável da maricultura na região e a geração de renda para famílias de ribeirinhos, pescadores artesanais e comunidades tradicionais.

O estudo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) comparou o desenvolvimento da C. brasiliana, também conhecida como C. gazar ou ostra do mangue, com o da espécie exótica Cassostrea gigas, conhecida como ostra japonesa ou do Pacífico, amplamente produzida em diversas partes do mundo.

Implantado às margens do Piraquê-Mirim, na comunidade rural e ribeirinha de Lajinha, distrito de Santa Cruz, o cultivo experimental foi iniciado com o povoamento de cinco mil sementes de ostras - duas mil e quinhentas de cada espécie - em caixas berçários. Posteriormente, elas foram transferidas para lanternas de cultivo em sistema long-line, com malhas de diferentes tamanhos, e monitoradas quinzenalmente para medições de comprimento e largura.

O experimento foi encerrado após 172 dias, quando as primeiras ostras atingiram o tamanho comercial de 70 mm. Os resultados mostraram que a C. brasiliana teve melhor desempenho, com taxas de crescimento e de sobrevivência superiores às da C. gigas.

Os dados obtidos surpreenderam a pesquisadora Marcia Vanacor, responsável pelo projeto, que tinha a expectativa de que a ostra japonesa crescesse mais rápido, mesmo sendo uma espécie de clima frio.

“A ostra exótica japonesa já tem pacote tecnológico de cultivo e melhoramento genético, e apresentou ótimos resultados zootécnicos em cultivos pretéritos nessa mesma área. Já a ostra nativa é estudada há bem pouco tempo e, em geral, demora mais tempo para crescer. Por isso, o resultado obtido é muito significativo”, avalia Vanacor.

A pesquisadora destaca que os resultados promissores e os novos conhecimentos sobre a espécie da fauna local são fundamentais para subsidiar o desenvolvimento de novos estudos e sistemas de cultivo, que podem impulsionar a maricultura sustentável na região, gerando oportunidades de trabalho e renda para as comunidades.

“É importante estimular novos investimentos e políticas públicas destinadas à revitalização da cultura de ostras no Espírito Santo, que teve um bom momento nas décadas de 1980 e 1990, mas não prosperou depois disso”, ressalta.

Entretanto, como o estuário do Piraquê-Mirim integra área atingida por resíduos de minério de ferro oriundos do rompimento do reservatório de rejeitos em Mariana (MG), em 2015, a pesquisadora adverte que é essencial que, antes do incentivo aos cultivos na região, sejam realizados estudos que avaliem se há acúmulo de metais pesados nas ostras cultivadas.

Desenvolvimento sustentável da maricultura

O experimento foi realizado de junho a novembro de 2023, por meio do projeto "Cultivo multitrófico de peixes, moluscos e macroalgas em comunidades tradicionais como ferramenta de desenvolvimento sustentável da maricultura", que é financiado pelo Banco de Projetos de Pesquisa (Portaria nº 002-R/2020) da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). A pesquisa contou com a colaboração do Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que forneceu as sementes de ostras para o estudo.

Os resultados do experimento em Aracruz foram apresentados no 20º Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar e 8º Congresso Brasileiro de Oceanografia, realizados conjuntamente entre os dias 13 e 16 deste mês, em Santa Catarina.


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