O sistema integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma tecnologia que consiste na produção agrícola, pecuária e florestal em plantios consorciados, em sucessão e/ou em rotação de culturas. Esses sistemas integrados de produção agropecuária contribuem para diversificação de renda, recuperação das áreas degradadas, conservação das pastagens e florestas, e redução da emissão de gases do efeito estufa. O ILPF é uma maneira de adequar a produção agropecuária às demandas da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) e à adoção de tecnologias sustentáveis.

A pecuária exerce um papel de extrema relevância no desenvolvimento econômico e na geração de emprego e renda. No Espírito Santo, está presente na maioria dos municípios, sendo a vertente leiteira exercida predominante por produtores familiares. Entretanto, em algumas propriedades, há baixa eficiência, tecnificação e diversificação em áreas que, por vezes, têm baixa produtividade e pastagens degradadas, o que limita o desenvolvimento da atividade.

Como forma de minimizar esse cenário, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) criou o projeto estratégico “Fomento da Bovinocultura Sustentável” desenvolvido pelo Instituto e parceiros. O projeto tem como principais ações a capacitação de produtores rurais e suas famílias, visando a desenvolver a pecuária estadual, com foco na sustentabilidade dos sistemas de produção e na melhoria da qualidade de vida das famílias rurais capixabas.

Entre as ações do projeto está a implantação de duas Unidades Demonstrativas (UD) de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), uma na Fazenda Experimental Bananal do Norte, em Cachoeiro de Itapemirim, e a outra na Fazenda Experimental de Linhares. As UDs estão abertas ao público para visitação, a fim de que os produtores possam conhecer de perto o sistema ILPF.

A implantação das UDs foi realizada pelo Incaper em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite; o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); a Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito (Fapes); e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).

Modalidades do ILPF

A adoção do ILPF sem o componente florestal consiste na integração Lavoura-Pecuária (ILP), uma das modalidades do sistema. A técnica compreende a utilização do manejo rotativo ou de sucessão para maior aproveitamento dos resíduos deixados por ambas as atividades. Entre os benefícios estão a melhoria na qualidade do solo, aumento da disponibilidade de nutrientes para os cultivares e otimização dos índices zootécnicos melhorando, consequentemente, os resultados socioeconômicos e ambientais. Outra vantagem é a possibilidade do uso intensivo de áreas já produtivas, reduzindo a necessidade de novas terras agricultáveis.

A combinação de ILPF, que trabalha apenas com árvores e pastagens, é a integração Pecuária-Floresta (IPF) ou silvipastoril. A IPF é eficiente no sequestro de carbono, sendo uma alternativa para recuperação da biodiversidade funcional do agroecossistema. Outros benefícios da IPF são o bem-estar e o conforto térmico do animal, além do incremento na produtividade da área.

As UDs desenvolvidas na Fazendas Experimentais do Incaper foram divididas em áreas únicas e independentes, denominadas de protótipos, que funcionam para simular um sistema de ILPF. Cada protótipo apresenta suas particularidades no que se refere a relevo, solo, cultura, sistema e manejo adotado.

Na Fazenda Experimental Bananal do Norte, em Cachoeiro de Itapemirim, estão três protótipos, sendo dois em área de morro e um na várzea. No morro foi adotada a modalidade de integração Pecuária-Floresta (IPF) com eucalipto, em um protótipo com espaçamento de 20x2 e o outro com o espaçamento de 20x4. Na várzea, optou-se pela integração Lavoura-Pecuária (ILP), onde são manejados a pastagem de braquiária em cultivo integrado com sorgo. 

Na Fazenda Experimental de Linhares, a UD também conta com três protótipos, cada um subdividido em quatro piquetes. O protótipo I representa um manejo a pasto de braquiária brizantha cv. BRS Paiaguás sem nenhuma integração com outra cultura, caracterizando a pecuária tradicional. Já os protótipos II e III, tem o sistema de ILP, integrando a braquiária brizantha cv. BRS Paiaguás com sorgo no protótipo II; e com milho no protótipo III. Ambas culturas são anuais e foram introduzidas no início da estação chuvosa em um dos piquetes de cada protótipo. A cada ano os piquetes da lavoura irão se alternar com o da pastagem.

O extensionista do Incaper, Renan da Silva Fonseca, é coordenador do projeto de avaliação dos impactos socioeconômicos e ambientais gerados a partir de capacitações em bovinocultura ofertadas como política pública do Governo do Estado pelo Incaper nas Fazendas Experimentais.

“A proposta com a implantação das unidades é caracterizar cada protótipo, demonstrando seu potencial de produção e realizando ajustes de manejo quando necessário, para posteriormente divulgar os resultados aos produtores rurais, por meio de capacitações”, destacou Fonseca.

“Também estão sendo avaliadas a percepção do público quanto às estratégias do sistema e sua aplicabilidade no Espírito Santo, por meio de aplicação de questionários nos eventos de capacitação. O ILPF pode ser uma alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável. Destaca-se ainda, o potencial do Estado para a adoção dessa estratégia, que ainda é baixa entre os agropecuaristas”, completou o extensionista.

Ações de avaliação de ILPF

No final de 2021, foi realizado um dia de campo virtual que abordou as indicações e práticas de manejo relativas à implantação do sistema de ILPF. Foi aplicado um questionário para avaliar a percepção dos produtores rurais sobre a tecnologia e a viabilidade para a aplicação de suas diferentes modalidades.

Recentemente, a Fazenda Experimental de Linhares recebeu a Caravana ILPF, realizada pela Rede ILPF e a Embrapa com o objetivo de difundir e ampliar a área ILPF no Brasil e realizar diagnósticos regionais em diversas regiões produtoras do País. O evento teve como tema “Como fomentar a adoção de ILPF no Espírito Santo?”.

Texto: Andreia Ferreira

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