“Preservar para não faltar”, essas foram as palavras do agricultor familiar Jair Littig, do distrito de Paraju, em Domingos Martins. Essa consciência é fruto do trabalho do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) que, há anos, disponibiliza, por meio de ações integradas, várias técnicas e práticas conservacionistas que visam a aumentar a capacidade de armazenamento e disponibilidade de água no solo.
A propriedade do Jair tem 52 hectares e é exemplo de reservação de água. “Há muito tempo percebi que precisava fazer algo para preservar os recursos hídricos que existem na minha propriedade, hoje esse trabalho é recompensado. Passamos por uma seca severa nos últimos anos e não ficamos sem água”, disse Jair.
Ações como consorciamento, conservação de nascente, áreas de recarga de água, construção, manutenção de caixas secas e cobertura morta são exemplos de gestão eficiente da água que ele implantou há 20 anos. “Se todos os produtores fossem conscientes da importância de preservar a água, o maior bem que temos em uma propriedade, eles não passariam por dificuldades”, ressaltou o produtor.
Em uma propriedade é fundamental manter uma área de recarga como topos de morro e encostas, por meio de reflorestamento e preservação de florestas. “Essa área é uma parte importante na propriedade pois essa água será armazenada de um modo natural. A água da chuva não pode correr e ir embora o que acaba acontecendo em áreas muito limpas, terras sem vegetação e degradadas. É necessário que essa água se infiltre na terra, então a mata é a melhor forma disso acontecer. O resultado desse manejo da vegetação é que dá origem às nascentes, que é o principal ponto de concentração e acúmulo de água”, explicou o extensionista Mario Cesar Ewald.
Outra tecnologia importante é o uso de cobertura morta. “Hoje nós temos uma nova concepção de manejo de solo onde você utiliza a roçadeira deixando a vegetação crescer formando uma camada protetora dos raios solares. Evita também o impacto das chuvas mantendo a umidade”, disse Mario.
A sustentabilidade da agropecuária, na maior parte das propriedades agrícolas, é dependente da reservação de água para uso em períodos de escassez, o que é geralmente resolvido com a construção de pequenos reservatórios. Na propriedade do Jair foram construídas 15 caixas secas. “Quando um produtor adota essa técnica ele está garantindo que a água não escorra para as estradas ou rios, ela fica retida e vai sendo absorvida devagar de forma gradativa para os solos”, disse o extensionista.
Outra técnica que o Jair adota na propriedade é o consórcio entre banana, mexerica, abacate e café. Com a diversificação nas lavouras é comum que o produtor faça algum tipo de consórcio. “O consorciamento é interessante especialmente quando se quer maximizar o aproveitamento da água disponível no solo ou do período chuvoso. Outro ponto é o sombreamento que uma cultura pode fazer na outra, o que diminui a incidência de raio solar”, disse Mario.
Irrigação consciente
No distrito Ponto Alto, em Domingos Martins, o produtor rural Sidnei Strey da Penha também é consciente quanto à reservação de água. Ele utiliza dois tipos de irrigação para molhar os 200 pés de uva e mil pés de café que tem na propriedade, a irrigação por gotejamento e microaspersão.
A irrigação por gotejamento é uma técnica eficaz de molhar as plantas com a quantidade adequada de água por meio de tubos que ficam próximos às raízes, diferente de outros métodos, em que a irrigação é feita por toda a superfície simultaneamente, causando desperdício. “A finalidade é molhar o solo e, por isso, indicamos esses dois tipos de irrigação que economizam água, sem desperdício, ou seja, uma irrigação de acordo com as necessidades da planta”, disse o extensionista.
Na microaspersão a água é aplicada na área ocupada pelas raízes das plantas, formando um círculo molhado ou faixa úmida. Essa técnica é muito utilizada nos dias atuais, sendo muito aplicada na produção de frutíferas. Sidinei destaca que esse foi o melhor caminho para o sucesso da lavoura. “Percebi a necessidade de economizar água na irrigação e vi que a produtividade aumentou, pois a água vai diretamente na planta”, disse.
Uso sustentável da água nas propriedades, garante o recurso no meio urbano
As ações na agricultura que visam à conservação da água tornam-se importantes não só para a produção agrícola, mas para a sociedade em geral. É importante frisar que as principais nascentes estão localizadas em áreas rurais, ou seja, as ações de conservação adotadas nas propriedades repercutem na disponibilização de água nos meios urbanos.
O Estado do Espírito Santo vem passando, nos últimos cinco anos, por extremos climáticos com excesso de chuvas em 2013 e secas em 2014, 2015 e 2016, sendo esses fenômenos de ocorrência histórica e de forma cíclica. Assim, é necessário ter estruturas de armazenamento e tecnologias de conservação de água, no primeiro caso para conter o excesso hídrico dos períodos chuvosos e suprir em períodos de escassez e para o uso sustentável do recurso. “Se usarmos a água de forma consciente na agricultura, ela nunca faltará para o consumo urbano”, finalizou o extensionista Mario.
Saiba mais sobre o uso sustentável da água nas propriedades em: https://www.youtube.com/watch?v=CbYshkmg0qA
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