Uma parceria iniciada em 2017 se consolida e gera resultados em Guarapari e região. A vitivinicultura (cultivo de uvas para vinho e agroindústria) em regiões quentes é uma realidade. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e o município estimularam produtores a desenvolver a cultura.
À época, no início da parceria, o município de Guarapari subsidiou mudas e contou com o apoio técnico do Incaper, por meio da equipe de profissionais de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater).
Em busca de referência consolidada na atividade no Estado, Santa Teresa — ativa na viticultura desde a década de 1980 — foi modelo em metodologia, visitas técnicas e palestras com pesquisadores e extensionistas do Incaper no município serrano, um intercâmbio bem-sucedido para produtores interessados em ingressar na cultura da uva, adaptado para a realidade da região quente.
Em 2019, o municípío foi submetido via banco de projetos de pesquisa da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), com a gerência de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapes), um trabalho para a avaliação dos impactos tecnológicos das atividades agropecuárias, desenvolvido pelo Incaper.
“Atualmente, estamos fazendo a avaliação de impactos da atividade — são avaliações tecnológicas, socioeconômicas e ambientais, além de introduzir no projeto o balanço de carbono originado”, contou o extensionista rural do Incaper à frente do projeto, Cássio Vinícius de Souza. Segundo ele, a viticultura praticada na região de clima quente no Estado permite a produção de alimentos com neutralidade de carbono, sem agravar as mudanças climáticas.
“Diante do cenário global de mudanças climáticas, o tema é atual e de alta relevância não só para o Espírito Santo, como para o mundo todo. Esse estudo mostrou que a viticultura na região quente, por meio do balanço de carbono, tem uma capacidade maior de sequestrar o carbono do que emiti-lo. Mostra que a viticultura familiar, de região quente, apresenta sustentabilidade no sentido amplo, não somente em questões sociais, econômicas, mas sobretudo ambiental, considerando o momento que vivemos com efeitos graves mundo afora”, destacou Souza.
O projeto
Coordenado pelo extensionista Cássio Vinícius de Souza, o estudo apresentado no projeto tem o objetivo de avaliar as emissões de Gás de Efeito Estufa (GEE) na viticultura familiar em região de clima quente (município de Guarapari). Para isso, foram utilizados dados de produção média de 11 pomares de videira (Vitis labrusca L.), as cultivares Niágara Rosada e Isabel Precoce. O período de monitoramento foi de três safras (2020, 2021 e 2022), desde a poda até a colheita. Foram quantificadas as emissões de GEE (kg de CO2-eq) de cada componente envolvido no processo produtivo de um hectare de cultivo.
O extensionista e coordenador do projeto afirma ainda que os níveis de sustentabilidade aumentaram consideravelmente quando os resíduos das podas foram revertidos em insumos na viticultura. Praticada na região de clima quente do Espírito Santo, a viticultura permite a produção de alimentos com neutralidade de carbono, sem agravar as mudanças climáticas. A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), via Programa de Pós-Graduação de Biologia Vegetal, é parceira no projeto de pesquisa.
Outra recomendação, no entorno das videiras, foi a plantação de bananeiras com a finalidade de quebrar o impacto dos ventos. (Crédito: Daniel Borges/Incaper)
Resultados
A mobilização social do projeto, a introdução de cultivares, podas e outras técnicas de produção, manejo da irrigação, adubação com base em análise de solo e outras técnicas formam a base garantidora de cultivo da videira na região quente. Alguns produtores que estão no terceiro ano de produtividade já colhem resultados. Atualmente, são onze propriedades rurais assistidas pelo Incaper e inseridas no projeto, que resultam em 4 hectares de produção, e um em formação, com 16 mil quilos por hectare de produtividade.
Na região de Aldeia Velha, área rural de Guarapari, fica localizado o Sítio Butke, uma das unidades experimentais assistidas pelo Incaper. A propriedade adotou a viticultura (produção de uvas de mesa e para agroindústria) e aumentou a diversificação da propriedade, que conta com laranja, limão, manga, cajá, pitanga e outras. No local, foi adotado pela proprietária Sandra Butke o modelo comercial “colhe e pague”, em que o visitante percorre os parreirais, escolhe e corta diretamente no pé os cachos de uva, que, por sua vez, são pesados na balança com o valor de R$20 o quilo.
“Estamos na segunda colheita e no quarto ano de produtividade no sítio. Nossa ideia não é vender no comércio formal. É um modelo de turismo de experiência para interessados no campo e na uva”, disse Sandra Butke.
Texto: Daniel Borges
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