Após as fortes chuvas que causaram estragos na região sul do Espírito Santo, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) publicou nesta segunda-feira (20) novo aviso meteorológico especial para os próximos dias. “Há previsão de pancadas moderadas a fortes de chuva. As chuvas virão acompanhadas de descargas atmosféricas e rajadas de vento, podendo ocasionar grandes acumulados. Não se descarta a ocorrência de granizo em pontos isolados”, informa o documento. Os detalhes atualizados sobre a previsão do tempo estão no site do instituto.
Retrospecto do final de semana
Em apenas cinco horas, choveu cerca de 180mm no município de Alfredo Chaves na última sexta-feira (17). O volume registrado corresponde a mais do que o total de precipitação esperado para o mês inteiro (166mm). As informações são da Coordenação de Meteorologia do Incaper.
Em Iconha, um dos municípios mais castigados pela chuva, não foi possível fazer o levantamento dos dados pluviométricos. “Por ter chovido na encosta, na região de Vargem Alta, e pelo fato de o escoamento da água em direção ao rio que corta Iconha ter sido muito rápido, o rio acabou transbordando”, explicou o coordenador de meteorologia do Incaper, Hugo Ramos.
“Foram os expressivos volumes de chuva registrados em Vargem Alta que contribuíram para o transbordamento em Iconha. No caso de Alfredo Chaves, tanto a chuva registrada na cabeceira, em Marechal Floriano, quanto o volume de precipitação registrado no próprio município, contribuíram para toda aquela situação catastrófica”, acrescentou Ramos.
A previsão climática de janeiro já apontava uma quantidade de chuva acima da média histórica. Para o fim de semana, a previsão do tempo era de pancadas de chuva, que se confirmaram num volume extremo. “Uma combinação de fatores meteorológicos potencializou a chuva que já estava prevista”, disse
Prejuízos na agricultura
O Incaper acompanha os impactos causados pela chuva nos municípios mais afetados: Iconha, Alfredo Chaves, Vargem Alta e Rio Novo do Sul.
“A nossa maior preocupação é com a vida das pessoas. Os trabalhos são, neste momento, para liberar as estradas e ajudar na busca dos desaparecidos” disse o extensionista do Incaper em Iconha, Fábio Dalbom. O extensionista estava no hospital de Anchieta quando conversou com a nossa equipe. “Vim tomar antitetânica porque me cortei. Estou literalmente na lama desde que tudo isso começou. Nosso hospital em Iconha foi inundado e os atendimentos estão sendo improvisados num espaço cedido pela igreja”, disse.
Em Alfredo Chaves a situação também é crítica. A produção de leite foi bastante afetada. “Sem estrada para escoar e sem energia, o leite ficou parado nas cooperativas. Perdeu tudo. As lavouras de banana também foram muito afetadas. Além disso, não tem como vender. Várias pontes foram arrastadas e as que sobraram, estão muito danificadas. Não dá para passar caminhão”, afirmou Adriano de Jesus Machado, do Incaper de Alfredo Chaves.
Adriano se lembra dos momentos de desespero que vivenciou no fim de semana. Ele mora em Cachoeirinha, na zona rural de Alfredo Chaves, bem ao lado do enorme deslizamento de terra e pedras que acabou vitimando um casal de idosos. “Só ouvimos aquele barulho enorme, foi horrível”, contou. A Fazenda Experimental do Incaper em Alfredo Chaves está inundada e quatro veículos utilizados para prestar assistência técnica aos agricultores atingidos.
Em Rio Novo do Sul, estima-se que as culturas de banana e café tenham sido as mais atingidas, justamente por serem as mais proeminentes na região. “Não temos como precisar se realmente foram as mais afetadas, mas temos quase certeza que sim. Alguns agricultores já ligaram para a gente dizendo que perderam toda a lavoura. No centro da cidade não tivemos muitos problemas, porém não temos como chegar ao interior. Pelo menos quatro pontes caíram. Em locais em que não precisamos das pontes para chegar, há várias barreiras que caíram nas estradas, bloqueando o caminho. Estamos esperando a prefeitura conseguir fazer a desobstrução das estradas para podermos dar suporte ao agricultor”, afirmou o assistente administrativo do Incaper em Rio Novo do Sul, Guilherme Marchiori.
Em Vargem Alta, a situação também é crítica. “Não conseguimos sair da área urbana para termos noção dos prejuízos na zona rural. Muitas barreiras caíram, bloqueando as estradas. Na zona urbana, o caos foi grande. Inclusive, um carro do Incaper encheu de água até o teto. Foi perda total”, afirmou o coordenador do escritório do Incaper em Vargem Alta, Haroldo Oliveira Gomes.
Rede de solidariedade
O Incaper mobilizou toda a sua rede de unidades para receber donativos a serem distribuídos entre os municípios mais atingidos. Água, alimentos não perecíveis, roupas, produtos de limpeza e de higiene pessoal e fraldas infantis e geriátricas são os itens mais urgentes. As doações podem ser entregues em qualquer unidade do Incaper. “Nossos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural (ELDR) e nossas Fazendas Experimentais já estão à disposição de quem quiser fazer as entregas. Vamos acionar vários parceiros para organizar uma logística de distribuição destes donativos”, pontuou Cleber Guerra, que responde pela presidência do Instituto.
Volume de chuva
Confira o volume de chuva registrado em alguns municípios capixabas entre as 17h do dia 17 de janeiro e a 1h do dia 18:
- Alfredo Chaves (estação meteorológica automática do INMET): 208 mm
- Alfredo Chaves (Centro – pluviômetro do Cemaden): 244,6 mm
- Vargem Alta (Centro – pluviômetro do Cemaden): 229,8 mm
- Rio Novo do Sul (Centro – pluviômetro do Cemaden): 103,6 mm
- Marechal Floriano (Araguaia – pluviômetro do Cemaden): 94,8 mm
- Anchieta (João XXIII – pluviômetro do Cemaden): 89,8 mm
- Anchieta (Olivania – pluviômetro do Cemaden): 78,0 mm
- Muqui (pluviômetro do Cemaden): 82,8 mm
- Venda Nova do Imigrante (Esplanada – pluviômetro do Cemaden): 74,6 mm
O que provocou a chuva?
A nota técnica elaborada pela Coordenação de Meteorologia do Incaper explica as razões da chuva. “O sistema meteorológico de grande escala que provocou a formação de nuvens profundas foi uma frente estacionária, que gerou um vórtice ciclônico de baixos níveis em sua extremidade”, disse o meteorologista do Incaper Bruce Pontes.
Teoricamente, o giro ciclônico (no sentido horário no Hemisfério Sul) dos ventos de sudeste em baixos níveis ligados à passagem das frentes acaba sendo intensificado quando o sistema avança de forma lenta pela região, que tem uma costa e barreira topográfica (montanhas) num formato relativamente perpendicular aos ventos de sudeste.
Com a intensificação do giro ciclônico, normalmente é formado um vórtice ciclônico em baixos níveis, que está associado a movimentos verticais ascendentes em algumas de suas bordas. Dependendo da posição e velocidade de deslocamento do vórtice, as nuvens mais profundas podem se formar sobre o continente e provocar chuva torrencial.
Outro fator que pode ter contribuído para a intensificação do fenômeno foi a temperatura da superfície do mar (TSM) no entorno do vórtice, que está mais quente que o normal durante os últimos dias. A TSM mais elevada resulta em mais disponibilidade de umidade (vapor d’água) à superfície, que tende a se elevar e arrefecer, condensando, especialmente junto aos fatores já mencionados.
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