18/12/2019 17h43

Projeto Elas no Campo e na Pesca: municípios planejam novas ações para 2020

Foto: Rubia Carla Buzato
Em apenas quatro meses, já foram atendidas 431 mulheres no Estado.

O ano de 2020 está chegando e é pensando nisso que o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), junto com parceiros de todo o Estado, se reúne para definir quais serão as próximas ações do projeto “Elas no Campo e na Pesca”. Por meio de metodologias estratégicas, o enfoque dos grupos de trabalho é valorizar e dar visibilidade ao trabalho e a vida das mulheres do campo e da pesca, fortalecendo a liderança feminina.

É o caso do município de Linhares que já tem as suas ações pré-definidas para o ano que irá entrar. No último mês, um diagnóstico participativo foi realizado com a equipe local do Incaper e representantes do Núcleo de Práticas Jurídicas das faculdades Faceli e Pitágoras; do núcleo de atendimento psicológico da faculdade Pitágoras; do Projeto Incubadora do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes); das secretarias municipais de Assistência Social, de Educação, de Agricultura e da Vigilância Sanitária; da Associação de Cacauicultores do Espírito Santo (Acau); da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Para 2020, Linhares receberá ações de capacitação e de organização da produção e comercialização dos produtos produzidos pelas mulheres rurais e da pesca, intercâmbios de valorização do trabalho da mulher, com destaque para as atividades de agroecologia, avicultura, meliponicultura, apicultura, ovinocultura, cacauicultura, cafeicultura, fruticultura e agroindústrias.

Também está entre as ações para 2020, ações de conscientização das relações de gênero, saúde da mulher, desenvolvimento da autoestima, da autonomia e do empoderamento das mulheres, em parceria com cursos de nutrição, estética, odontologia, fisioterapia, psicologia e administração da faculdade Pitágoras.

Enfrentamento à violência

Também foi criado um grupo de trabalho com foco no “Enfrentamento à Violência Contra a Mulher Rural e da Pesca”, inicialmente em três comunidades que apresentaram a demanda no município de Linhares: Degredo, Desengano e Córrego do Farias, a partir de encontros coletivos, até o atendimento individual, especializado e sistemático.

Alessandra Maria da Silva, extensionista da unidade do Incaper em Linhares e gestora operacional do projeto, contou que para esse tema as mulheres também irão contar com a atuação das secretarias municipais de Assistência Social e de Educação, do Núcleos de Práticas Jurídicas da Faceli e da faculdade Pitágoras e Núcleo de Atendimento Psicológico da faculdade Pitágoras. Para esse tema, o grupo de trabalho contará com a participação da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).

“Para o próximo ano, a expectativa é fortalecer as ações com as mulheres rurais, trazendo a visibilidade e valorização definitiva e permanente dos trabalhos com as mulheres para além dos projetos governamentais. A proposta é contribuir para a garantia dos direitos das mulheres rurais e da pesca do município de Linhares”, explicou Alessandra Maria. Segundo a extensionista, as ações programadas para o próximo ano em Linhares deverão ser estendidas a todas as comunidades no decorrer do projeto “Elas no Campo e na Pesca”.

Força feminina

A coordenadora de projetos da Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e idealizadora do projeto, Patricia Ferraz, contou que em praticamente todos os municípios do Estado estão ocorrendo reuniões de planejamento de metas e ações para o próximo ano. Segundo ela, 2019 foi marcado pelo início das atividades e, em quatro meses, já foram atendidas 431 mulheres.

“Foi um ano muito intenso, pois foi necessário pensar e construir o projeto de forma coletiva, articular e mobilizar os parceiros e divulgar a proposta de trabalho. Percebo que é um projeto que tem encantado a todos e, principalmente, as mulheres rurais e da pesca, que estão se sentindo valorizadas e fortalecidas. Recebo relatos emocionantes dos técnicos que estão atuando junto às mulheres nos municípios e isso aumenta mais a nossa responsabilidade para o ano de 2020”, reforça Patrícia Ferraz.    

As mulheres rurais e da pesca de Alegre também já se programaram para se  reunir com o grupo focal do projeto “Elas no Campo e na Pesca”, composto por representantes do Incaper, da Secretaria de Desenvolvimento Rural; Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf); Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes); secretarias municipais de Saúde, de Saneamento, de Assistência Social e de Direitos Humanos; Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), além de agricultores familiares e representantes do grupo de agricultura Kapi`xawa. Após longos momentos de diálogo, eles se dividiram por temas para programar as próximas ações: saúde, assistência social e agricultura.

“Um trabalho em parceria é fundamental para alcançarmos os objetivos do projeto. Apuramos o que já vem sendo feito em prol das mulheres do nosso município. São ações maravilhosas. Porém, algumas dessas ações não chegam até as nossas agricultoras rurais. O que fizemos foi adaptar à realidade das nossas agricultoras, pensando na qualidade de vida delas”, contou a economista doméstica do Incaper, Aline Chaves Pereira.

Protagonismo das mulheres

Dentre as ações para 2020, estão a elaboração de projetos para submeter ao edital do Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf); o lançamento do projeto intitulado "Mulheres no Campo", com o objetivo de dar visibilidade e valorizar o projeto em Alegre; e o 2º Encontro de Mulheres do Campo, com oficinas e cursos na área de Gestão e Empreendedorismo para os grupos produtivos de mulheres.

A intenção é realizar ações na área da saúde, voltadas para a segurança alimentar, nutrição, prevenção ao diabetes, aferição de pressão, contaminação com agrotóxico e prevenção do câncer, com foco em musicalidade, vídeos e rodízio de tendas. Além disso, serão criadas oficinas para trabalhar a autoestima das produtoras e jovens, a orientação sexual das mulheres e de artesanato, com a utilização de biocosméticos por meio de aromoterapia. Sem contar que o tema violência doméstica será trabalhado ao longo de 2020.

Só este ano, Alegre recebeu o 1º Encontro de Mulheres do Campo, com o objetivo de fomentar a valorização da mulher rural e gerar encaminhamentos de demandas. A partir delas, foram realizadas outras ações, como a ida da unidade móvel - o “Ônibus Lilás” -, ao Assentamento Floresta onde as mulheres rurais puderam receber atendimento psicossocial com psicológico e assistente social, além de outros serviços gratuitos – fruto da parceria entre o grupo Coletivo de “Mulheres Umas pelas Outras”, de Alegre, com a Secretaria de Direitos Humanos, a prefeitura municipal e o Incaper.

O município também foi marcado pelo curso “Mulheres do Campo”. “Com o curso, as mulheres puderam obter conhecimentos sobre gestão e empreendedorismo, reforçando, assim, o protagonismo feminino nos empreendimentos rurais do nosso município”, acrescentou a economista doméstica do Incaper, Aline Chaves.

Para a agricultora familiar Margarida Maria dos Santos Nazário, os encontros são uma forma de fazer com que as mulheres se sintam cada vez mais valorizadas. “É um projeto que traz o reconhecimento da mulher por parte do setor público no desenvolvimento das atividades produtivas das propriedades rurais e nas colônias de pesca espalhadas por todo o Estado. Com os trabalhos desenvolvidos aqui, me sinto inserida no mercado de trabalho em que só o homem era reconhecido como produtor rural, com direito de buscar recursos para desenvolver apenas seu trabalho no campo”, relata.

Elas no Campo e na Pesca

O Projeto “Elas no Campo e na Pesca” é uma iniciativa da que compõe o Programa “Agenda Mulher”, coordenado pela vice-governadoria do Estado, com ações integradas aos demais órgãos do Governo, prefeituras e parceiros. O objetivo é promover a visibilidade, a valorização do trabalho feminino e a autonomia econômica e financeira das mulheres, por meio da assistência técnica, do acesso ao crédito e às políticas públicas, além do apoio ao empreendedorismo, associativismo, cooperativismo e comercialização.

O projeto pretende executar ações integradas até o ano de 2022, com a divulgação dos resultados, fomento a projetos, sensibilização da sociedade, produção de materiais audiovisuais e conteúdos midiáticos. Também estão previstas a construção de um banco de dados com as necessidades encontradas, capacitação de técnicos, realização de seminários e publicação de um livro mostrando os resultados do projeto.

Recentemente, o trabalho foi reconhecido na Plataforma de Conhecimentos sobre Agricultura Familiar da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A plataforma tem uma seção dedicada às mulheres rurais.

 

Texto: Tatiana Toniato Caus
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