Em 2019, sete bolsistas do Ensino Médio da Escola Família Agrícola (EFA) de Belo Monte, localizada em Mimoso do Sul, avaliaram o desempenho agronômico de genótipos de milho crioulo com potenciais para serem utilizados na região sul do Espírito Santo e em programas de melhoramento.
Intitulado “Avaliação Morfoagronômica de Genótipos de Milho Crioulo Coletados no Estado do Espírito Santo”, o resultado desse estudo foi compartilhado, nessa terça-feira (03), na Área Experimental do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Jerônimo Monteiro.
Os trabalhos foram apresentados pelos bolsistas em forma de pôster e avaliados por consultores ad hoc indicados pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), durante a Mostra dos Resultados Finais dos Projetos de Iniciação Científica Júnior (PICJr), financiado pela Fundação.
Bolsista do PICJr, o aluno da EFA de Belo Monte, Daniel de Carvalho Souza Silva, teve a sua apresentação bastante elogiada pelos professores e pelos colegas. “No início eu estava desmotivado a aceitar participar do projeto, porque eu imaginei que fosse ter poucas técnicas de campo. Com o tempo, me deparei com uma realidade completamente diferente, já que eu não tinha tanto conhecimento na área. Hoje eu tenho a certeza de que essa foi mais uma vitória para o meu futuro e para o meu município. Além de crescer como estudante, nós todos pudemos oferecer uma disponibilidade tecnológica para o campo, com excelentes resultados e que atende aos agricultores familiares”, contou. O aluno estendeu os seus agradecimentos a pesquisadora do Incaper, Sheila Cristina Prucoli Posse e a monitora da EFA local, a professora de zootecnia e química, Camila Alves.
Tudo começou em 2017, quando o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) iniciou um trabalho de coleta de sementes crioulas de milho em todas as regiões do Estado, tendo adquirido mais de 100 genótipos diferentes que compõem a coleção de sementes da Instituição. “Dessa forma, este projeto tem como objetivo avaliar o comportamento e caracterização de genótipos de milho crioulo resultantes desse processo de resgate do Incaper”, explicou a responsável pelo projeto, a pesquisadora do Instituto, Sheila Cristina Prucoli Posse.
Ela disse ainda que foram avaliadas as características qualitativas e quantitativas dos genótipos e, “a partir dessas avaliações espera-se potencializar o uso desses recursos genéticos, permitindo um maior conhecimento desses genótipos que auxiliarão na identificação de materiais superiores, em produtividade, podendo estes, serem no futuro, indicados para o seu uso pelos agricultores capixabas”, afirmou.
Para isso, foram selecionados 13 genótipos de milho crioulos, pertencentes à coleção do Incaper, e avaliadas as características qualitativas e quantitativas em um experimento implantado na área experimental da Escola Família Agrícola de Belo Monte.
De acordo com Sheila Posse, trata-se de uma cultura que está presente na grande maioria das propriedades conduzidas por agricultores familiares, o que evidencia o seu papel social. Segundo ela, o milho também pode ser utilizado diretamente para consumo humano, como principal fonte de energia e para a produção de carne e leite, já que o cereal é amplamente utilizado como matéria-prima na alimentação animal”, pontuou a pesquisadora.
No primeiro mês de desenvolvimento do projeto, os estudantes bolsistas receberam aulas teóricas a respeito da cultura do milho e a sua importância social e econômica para o Espírito Santo, bem como os seus reflexos no cenário internacional.
Durante as aulas, eles conheceram todo o processo de condução e produção de uma lavoura de milho, passando pelos métodos de propagação sexuada e de sua polinização cruzada, além da importância na obtenção de novos genótipos, ou até mesmo na interferência de pólens e outras plantas de milho na “contaminação” dos genótipos a serem avaliados no projeto. Além disso, eles receberam noções básicas de melhoramento de plantas.
Futuro
A pesquisadora também lembrou que um dos objetivos do projeto é a inserção desses estudantes na carreira técnico-científica e buscar a inclusão dos alunos de uma escola pública, que já tem seu foco voltado para a agricultura e que está localizada numa região de vulnerabilidade social.
“Esse ambiente de estudos desperta novos potenciais talentos na pesquisa e, consequentemente, promove uma transformação na visão e expectativa de futuro desses jovens. Que eles possam levar os conhecimentos adquiridos para toda a comunidade e sejam exemplos a serem seguidos a todos os seus colegas de escola, valorizando o ensino público estadual e consequentemente contribuindo para o desenvolvimento do Estado”.
Milho Crioulo no Espírito Santo
No Espírito Santo, o milho é cultivado em aproximadamente 40 mil hectares, por mais de 20 mil produtores, especialmente os agricultores familiares. É utilizada principalmente no consumo familiar, na alimentação de aves, suínos, bovinos e no agroturismo. “Por estes motivos é que a escolha da cultivar a ser plantada é fator fundamental para o sucesso da lavoura”, ressaltou Sheila Posse.
No mercado existem dois tipos de cultivares, os híbridos e as variedades melhoradas. Porém, os híbridos são mais indicados para os plantios em ambientes favoráveis e com altas tecnologias, onde as suas sementes são mais caras e não devem ser reutilizadas em sucessivos plantios.
“As variedades de milho crioulo geralmente apresentam melhor adaptação e têm maior estabilidade de produção em ambientes desfavoráveis. Elas são mais indicadas para os produtores menos tecnificados e possibilita a reutilização das sementes. Por este motivo, são mais recomendadas para a maioria dos produtores de milho do Estado do Espírito Santo”, completou a pesquisadora.
Texto: Tatiana Toniato Caus
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